sábado, 26 de maio de 2007

Quando a vida vale a pena

Que me desculpem os puristas, aqueles que esperam que se escreva em nortense neste blog e se use a língua de camões noutras ocasiões, mas a verborreia que se segue (filosófica à minha maneira) é um real e honesto desabafo, escrito com outros orgãos que não o cérebro (instrumento que teria de usar para escrever em nortense, uma língua de tal forma erudita e rebuscada, que me removeria da minha intensão de me concentrar no que me diz o coração (curassom, para os purístas)). Por estar a escrever em estrangeiro, perdoem-me qualquer imprecisão ortográfica.

Binde ber istu (esta é propositada)

Num mundo globalmente adormecido pela previsível (e confortável) máquina do capitalismo, onde os produtos, os empregos, as rotinas e as vidas em geral são demovidas de qualquer sentido, é demasiado fácil procurar culmatar essa lacuna com uma ainda mais intensa viagem de compras, por sabermos(?, ou talvêz ?!) que um novo super-carro ou super-relógio, ou super-plasma nos trarão mais sentido à vida.

Alguns de nós acham que a coisa não é bem assim e tomam decisões, por vezes custosas (e muito, que o digam os meus), para escapar da engrenagem e encarar o Universo em todo seu explendor. Quando tal acontece, demoram-se uns meses (ou talvez anos) a encontrar uma nova ordem na vida e a desenvolver a atmosfera pessoal necessária para nos proteger das agressões de que nos pode proteger o capitalismo ao preço de vida própria apenas (está em promoção, ajulgar pela adesão à ideia). Em suma, voltamos a ser crianças.

Menino de rua

"Ainda eu era pequenino, acabado de parir" sonhei que queria ser músico, ideia que mais tarde abandonei por achar não ter o talento necessário para me afirmar numa terra de bacocos, dominada, na altura da minha decisão, como agora, pela gloriosa máquina Pimba (e pisca pisca - gaja boa e nada mais, um pouco como o pop USA que passa nas rádios e TV de hoje).

Foram precisos 15 anos para eu me reconhecer algum talento, e redescubrir uma coisa ainda mais importante: uma vontade inabalável de o fazer, contra tudo e contra todos, mas a meu favor, e a favor daqueles por quem me interessa lutar!

Decisão estúpida atrás de decisão estúpida (segundo a opinião de muitos), acabei a gravar um disco (Iblussom) com os Trabalhadores do Comércio, essa força criadora que para alguns dos leitores é um grupo músical, mas que para mim é parte integrante de mim próprio, uma espécie de terceiro braço (achei que segundo pénis, ainda que fosse uma metáfora mais rigorosa, retiraria seriedade à crónica e faria tocar o telemóvel muitas vezes). Como devem compreender, a minha experiência com os TC começou em 1980, tinha eu 7 anos. Isso, e o que se seguiu, marcaram a minha personalidade de forma irreversível.

Ardenmus olhus

Já enterrado até às orelhas no projecto (disco na rua, uma ou outra altercação com jornalistas pseudo-intelectuais) mas sempre seguro da qualidade de Iblussom, e da inegável realidade de que os TC me dão a oportunidade de ser eu próprio a 100%, como só a minha outra família me dá, dei com uma crítica a Iblussom onde se diz que

O novo disco, sobretudo o CD de inéditos, merece ser bem escutado – e, de preferência, com o volume elevado porque isto é mesmo os Trabalhadores do Comércio em formato "evolução".

Num email que mandei a alguns amigos afirmo que

"Este é provavelmente o cumprimento mais modesto que nos prestam na crítica. A partir daí a coisa fica mais séria, deixando naqueles que a provocaram (os TC) um sentimento misto de regozijo, êxtase, desconforto e ardor nos olhos, como diz a canção, mas desta vez por causa das lágrimas."

Isto é realmente o que sinto, e julgo que o posso dizer vezes 6 (contando com o produtor Nuno Meireles). Mas daqui há lições a retirar, que é o objectivo deste alargado post que seguramente provocou nos leitores a esperança de que eu continue a gravar discos (independentemente da qualidade) desde que pare de escrever em blogs ou em qualquer outro sítio que não seja a minha agenda pessoal - é A4.

Ganda nagócio

"E num quero ter outra surpresa, bibo a bida com outra certeza, e se quero lagosta na mesa...", faço o que gosto de fazer, que no seu tempo o Universo há-de responder e o crustáceo vai acabar mesmo entre os meus dentes. Até lá, lagosta só se for o vinho, e o cheiro de marisco nos dedos tenho que o encontrar de outra forma (com mais prazer, admito), mas sempre com um enorme grau de felicidade porque mais uma pessoa (Luís Silva do Ó) percebeu plenamente o que quizemos fazer com Iblussom e o explicou melhor do que nós poderiamos, para quem quizer saber mais sem comprar o disco.

Acreditem no seguinte: Façam como eu e assumam aquilo que gostariam de fazer e vejam com interesse o Universo a responder, porque todas as feridas que ganharão no processo vão ser medalhas de guerra de generais em potência e ascenção. Depois, quando as resposta positivas aparecerem (e isso é inevitável) sentirão que, sem qualquer sentido possessivo, o Universo é vosso, mesmo que pouco ou nada tenham. Assim, a vida vale a pena!

Juom

1 comentário:

MARCO disse...

Espero que além de continuarem a fazer discos e a serem felizes, continues a escrever ou no blog ou então que escrevas o livro de que falas no mail. Em qualquer dos casos, na falta de convivios à mesa, regados convenientemente, é sempre bom ler o que escreves, a lutar pelos teus sonhos! E como sempre terás o meu apoio! E estes comentários são completamente insuspeitos pois eu sou só teu amigo!
Marco